Juliana Coissi, Enviada Especial do Folha de São Paulo a Governador Edson Lobão.
O lavrador José Barros da Silva, 63 anos, se recorda do tempo de menino quando brincava nas ruas de terra de um povoado surgido a partir da construção da BR-010, no interior do Maranhão, no fim dos anos 50.
Ribeirãozinho, antigo nome do vilarejo, é como ainda hoje ele e a maioria dos moradores locais preferem se referir ao município de Governador Edison Lobão.
Antes pertencente a Imperatriz, o antigo distrito tornou-se município em 1994. Foi quando deixou de ser Ribeirãozinho e adotou o nome do político maranhense aliado da família Sarney. Lobão governou o Maranhão de 1991 a 1994. Hoje ocupa o cargo de ministro de Minas e Energia.
Polêmica, a homenagem é alvo de uma disputa judicial, de falatórios e dúvidas na cabeça dos moradores.
“Para os antigos, o povo em geral, aqui se chama Ribeirãozinho. Meus filhos nascidos aqui conhecem assim”, diz o lavrador José da Silva.
Ele, a mulher e os filhos edison-lobenses –Josenildo, 14 anos, José, 12, e Joselângela, 6– vivem em uma casa de taipa, com parede de barro.
Apesar de o ônibus local trazer espremido “Governador Edison Lobão” no letreiro, os nativos teimam em usar o nome antigo.”Quando a gente pergunta no ponto, é assim: Já passou a linha para Ribeirãozinho?’. Ninguém pergunta por Governador Edison Lobão”, diz a comerciante Graziely Pereira da Silva.
“Ninguém foi consultado [sobre o nome do município], mudou assim, do nada”, diz.
Além de mais antigo, Ribeirãozinho soa mais fácil, defendem alguns: “É mais mais rápido de dizer”, afirma a dona de casa Marlene Oliveira.
Uma rara voz dissonante na preferência por Ribeirãozinho é a do vigia Antonio Barbosa Nascimento. Ele logo justifica: a homenagem ao conterrâneo e atual ministro pode trazer dividendos para a cidade. “Dá pra cobrar mais o ómi’, né? A cidade tá no nome dele”, argumenta.
O funcionário público Carlos Almeida rebate. “Mas é isso que o povo reclama: um ministro que nunca vem aqui, nunca teve carinho pela cidade com o nome dele”, diz.
INCONSTITUCIONAL
Mais do que ser um nome comprido demais ou diferente do tradicional, homenagear o político ainda vivo seria inconstitucional e lhe daria vantagens eleitorais, diz o Ministério Público Federal.
Em 2013, a Procuradoria obteve uma decisão da Justiça que determinava a mudança do nome, ou a cidade ficaria impedida de receber recursos federais.
Uma alteração dessa natureza depende de lei estadual. Mas a votação está emperrada na Assembleia Legislativa local, onde a maioria apoia a governadora Roseana Sarney (PMDB), aliada do ministro.
Procurada para comentar, a Assembleia Legislativa não se manifestou. Assim como a assessoria de imprensa do Ministério de Minas e Energia.
Morador não tem luz na ‘cidade do ministro da Energia’
DA ENVIADA A GOVERNADOR EDISON LOBÃO (MA)
Na cidade que homenageia no seu nome o atual ministro de Minas e Energia, Manoel Severino da Conceição dos Santos, 53, vive sem luz na casa onde trabalha como caseiro.
No imóvel, que fica na zona rural de Governador Edison Lobão, Manoel recorre a um motor movido a gasolina para acender lâmpadas, ligar o chuveiro ou assistir TV.
Mas o improviso não garante energia constante.
Como um galão de 20 litros de gasolina custa R$ 50 e dura em média uma semana, ele precisa economizar. “Lá, na minha casa no centro, eu fico acordado até às dez da noite, assistindo filme na TV. Aqui, com a escuridão, às sete [19h] eu já estou na cama.”
Sem geladeira, Manoel leva água em uma garrafa térmica sempre que volta do almoço em sua casa.
Ele diz que há quatro meses o dono do imóvel pediu a ligação da luz à Cemar (Companhia Energética do Maranhão), mas não teve resposta.
Em outra casa, a fiação elétrica chegou, mas graças a uma ligação clandestina –um “gato”.
A maior parte da cidade, porém, já está interligada na rede. A assessoria da Cemar não informou por que há imóveis rurais sem energia no município.
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